Na pressa de querer crescer, organizar e me tornar uma pessoa multitarefa, acelerei todo o meu ser, passei a querer o mundo em menos de um segundo, de buscar resultados de forma insana e de não aceitar quando eles não eram alcançados da forma que eu queria;
Na pressa por fazer, priorizava sim os resultados, buscava qualidade, mas não era prioridade porque o que estava pesando era o volume do fazer, a produção em números e apenas os números estavam significando algo;
Sentar para ouvir música era uma heresia, não que o tempo isso significasse uma perda de tempo, apenas porque parar para ouvir uma música significava parar para ouvir meus pensamentos;
Parei de rezar, parei de meditar, parei de me ouvir;
Só ouço os passos apressados em meio ao caos do dia a dia, o tic-tac do relógio me dizendo que mais uma vez estou atrasada para os compromissos, as pilhas de papeis esperando que algum dia eu tenha tempo para o \”algum dia/talvez\”, pilhas de sonhos desmoronando ao lado das pilhas de roupas para passar e eu me pergunto: daquela pilha o quanto é meu?
Só enxergo os pedidos dos exames médicos acumulando, dos tratamentos sem continuidade, da intolerância ao glúten gritando a cada mordida no tão temido trigo a cada dia que estou sem tempo para fazer algo mais saudável.
Muitas lagrimas escorreram enquanto eu escrevia tudo isso, não sei o quanto escrever tudo isso foi bom, mas eu precisava por pra fora, são muitas coisas me cutucando, me machucando dentro de mim, pedindo para serem observadas e ouvidas, pedindo atenção para serem compreendidas.
Sinto saudades, muitas saudades, sinto dor também, uma dor que imunda todo o meu ser e não se aquieta, uma dor muito parecida com fome e com uma urgência de \”estar e ser\” que parece nem ao menos observar onde eu estou e tudo o que eu já fiz até agora.
Queria sair e buscar o meu \”eu\”, mas ele está justamente aqui dentro de mim, sem ser ouvido. Queria parar tudo e encontrar o meu eu, conversar com ele, ouvir tudo o que ele tem a dizer, tudo o que ele poderia me ensinar e deixar ele ser o meu tutor, porém parar não é algo possível.
The \”Show\” must go on .. . e assim continua o show sem intervalos …
Doeu abrir mão da vaga de trabalho desejada, doeu abrir mão da viagem dos sonhos, doeu precisar de colo e não ter, doeu ser adulta quando o que queria era o colo da avó… Doeu não poder ir embora e ter que ficar, doeu por a máscara de satisfação… onde esse caminho poderá me levar a não ser o que eu já ando por todos os dias… o quanto do só isso tem nisso?
Até quando esse calor infernal irá me dominar e irei escolher deitar do que produzir? até quando me obrigarei a produzir? Até quando olharei tudo o que tenho para fazer e nunca cessarei a lista de pendencias domesticas acumuladas …
Existe muita gratidão no meu dia sim, mas surgiram muitas dúvidas, é a vida clamando por mudanças e exigindo que eu cuide de mim, que eu regue mais o meu interior, não tem como prosseguir assim, não tem como escrever aqui, não tem como continuar a percorrer os mesmos caminhos todos os dias sem me ouvir.
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